Ouço um verso e sou automaticamente transportada praquele outro tempo em que eu acreditava. Quase tudo era possível, mesmo já tendo deixado tanta coisa pelo caminho. Mas eu tinha uma penteadeira e um coração onde cabiam vidas inteiras. Acreditava tanto que desenhei um projeto de vida, um futuro empenhado num voto de amor. Uma tolice, por certo, mas naquele tempo eu acreditava. Obviamente foram-se o amor, o projeto e a penteadeira, não se carrega um voto de futuro sozinha. Vejo fragmentos de uma vida distante, um pic-nic, um passeio de bicicleta, um fogão a lenha, um pé de ameixa, um bebê mexendo na barriga. Mas o filme continua e vejo silêncio, tristeza, distância, mentira. Observo a mim mesma de longe, carregando o mundo nas costas, tanto peso, tanto medo, diagnósticos, contas, cobranças. Impossível acreditar num futuro, num amor – esteja lá ou aqui, num momento mais leve, na possibilidade de – algum dia – essa dor passar. Senti um pouco de saudade de acreditar.