Olho o aparelho e percebo que estou desconectada, uma sensação estranha essa de me imaginar só. Um bom momento para pensar em quando me desconectei e mais, se é possível que me encontre em algum lugar. Há décadas fugindo do vazio, tudo o que consegui foi desaparecer. De mim. Em mim. Esse universo de antimatéria onde tudo é desconhecido. Caminho pelo museu e vejo imagens e palavras. Não consegui salvar minha mãe, nem a mim, segui seus passos mesmo tendo corrido devairadamente deles. Nem foi um caminho, mas uma sina. Lembro-me que ainda é tempo de morangos, que o chapéu côco continua no armário, que o amor deveria me esperar no fim da vida. Que sou um oceano talhado em um rosto devastado. Tanto tempo desejei outra vida, largando essa que me foi concedida. Tantas mortes, de formas diferentes. Penso em você, tão distante, não há mais nada, eu sei, e me entristeço mesmo sabendo que esse era o final possível. Mas eu acredito, às vezes eu acredito. E espero. Recolho-me. Alguma hora passa.