Eu adoro música.
Desde os tempos de criança, quando ouvia apenas rádio e trilhas sonoras de novela, minha vida já tinha sua própria trilha.
Na minha família, ninguém nunca foi muito fã de nada em específico.
Meu pai gostava de Roberto Carlos e até comprou alguns discos, mas ficou nisso.
No mais, eram apenas coletâneas, de qualquer coisa.
Minhas irmãs, mais velhas, também não eram fanáticas por nada.
Houve um tempo em que a mais velha curtiu Rádio Taxi, mas não passou disso.
A do meio (sou a caçula) viveu uma fase gloriosa onde tinha várias fitas k7 de rock’n roll.
Só coisa boa, e confesso que fiquei com quase todas.
Mas essa fase também passou e hoje ambas continuam na base da trilha de novela.
Eu, bom, desde que ouvi minha primeira fitinha do Joy Division, nunca mais larguei a busca por bandas que fizessem músicas que me falassem algo.
Passei pela fase pós-punk, punk, metal, indie e hoje gosto de muitas coisas.
Não sou eclética. Gosto de bandas e cantores específicos e tudo que escuto está relacionado a algum fato da minha vida.
Tudo isso para dizer que 2005 foi o ano dos grandes shows.
Para listar os mais importantes, para mim:
Placebo
Orishas
Weezer
Strokes
Manu Chao
Pearl Jam
Gostaria de comentar o que senti ao ver cada um deles, mas não posso.
Porque não estive presente em nenhum deles.
É aí que entram as escolhas. Em um determinado momento da minha vida, decidi fazer as coisas acontecerem para mim. Não foi fácil, muito pelo contrário.
Precisei de uma força hercúlea e estou me recuperando até agora.
Mas, ao escolher tornar meu sonho realidade, sabia que teria que abrir mão de muita coisa.
Abandonei minha família, meus amigos, minha casa, meu carro, meu conforto, meu emprego, minha cidade, minha vida…
Troquei por uma nova vida, em uma nova cidade, em um apartamento-trailler, usuária do sistema coletivo de transporte, de chinelo de dedos .
Ganhei a chance de estudar o que sempre desejei e, como conseqüência, estabeleci uma nova relação com o meu filho e com o meu marido, muito melhor e mais saudável
É claro que sou a mesma pessoa, mas amadureci mil anos por arcar com o peso da minha escolha.
Sim, perdi grandes shows, principalmente o do Orishas, num pequeno bar em Curitiba, onde eu poderia ter tomado muita tequila, gritado enlouquecidamente todas as músicas, conversado com os caras e dado um enorme vexame, como costumo fazer quando estou muito feliz e bebo demais.
Mas, hoje, me contento com as pequenas alegrias…
Elas me lembram que cada dia é uma vitória, que ainda estou na luta.
E, se nela persistir, logo estarei vendo todos esses shows e muitos outros.
Com certeza, terá valido a pena.
pois é…como diria Verlaine “Antes de tudo, a música…” Ainda tenho muitos vinis…relíquias…também tive minha fase metal…mas acabei ficando com o povo udi-grudi…desses shows só vi o Placebo (Recife, tão efervescente como um sonrisal, só conseguiu trazê-los e nada mais)…minha vida ainda se reinventa…tive de remodelar meus planos…talvez não vá ao Rio, nem a São Paulo ano que vem…só a São Luis, mesmo…menos mal, encho a cara e saio rolando nos Lençóis…vida, vida…é ela que temos, minha mana…ao menos tua irmã ouvia Radio Taxi, a minha ouvia brega…e ainda ouve…oh vida, oh azar…beijos pra tu…
Comigo os shows foram a mesma coisa. Morro de vontade de ver o Iggy Pop. Ele veio, eu fiquei em casa. O NIN tudo bem, já tinha visto, entào não tinha tanta lombriga interna assim. Mas acho que nunca mais vou conseguir realmente ir a um show. Existe alguma coisa dentro de mim que meio que que extinguiu, a vontade de estar lá no meio da turba.
Acho que estou ficando velha. Então vejo as coisas dentro da minha cabeça e de uma forma ou de outra, acabo achando que aqui dentro acaba sendo melhor que lá fora.
(Acho que preciso de uma lobotomia…)