Esperar:
1. Ter esperança em; contar com
2. Estar ou ficar a espera de; aguardar
3. Supor, presumir, imaginar
Ao esperar, o tempo fica em suspenso e a vida acontece em algum lugar, lá fora, longe do seu alcance. A mente funciona, mas o corpo permanece imóvel, pois a espera não comporta a ação.
Ao esperar, os pensamentos caminham entre devaneios e desejos. A memória funciona como um filme, selecionando lembranças de situações, pessoas, cheiros, músicas, em busca de distração.
Ao esperar, as emoções afloram, pois a exepctativa do que está por vir carrega a esperança de algo positivo aconteça.
Ao esperar, o ser fica sujeito ao inesperado…
Pois é…as coisas acontecem com o Tempo ao redor, não com ele ao nosso redor… eu, com a minha impaciência congênita tenho uma natural aversão ao ato de esperar…mas a gente tem de aprender, nem que seja esperando…até por que, não tem outro jeito mesmo…
Alcoólicas
de Hilda Hilst
É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas – I)
* * *
Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas – II)
* * *
E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas – IV)
* * *
Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas – V)
Imagino o medo…por vezes sou vítima desse último olhar pra baixo, ou do angustiado olhar pra cima e não saber onde e quando chegaremos a algum canto…e se chegaremos intactos…
Compartilho em tudo que sentes…meu medo ainda é real, minha Irmã…e é com a ajuda de pessoas como você que eu teimo em subir…nem que seja, para um dia,poder estender os braços para quem vem mais atrás…
Grande beijo e força sempre…