Fazendo a coleta de dados para a tese voltei para a minha linha do tempo no FB, a partir de 2011.
É engraçado ver o começo de tudo, o primeiro mamaço, as primeiras discussões do grupo de pesquisa Antimainstream, os preparativos para a primeira marcha das vadias. A maioria das coisas que está ali eu lembro. Lembro dos textos, dos debates, das notícias. Lembro até das datas.
Mas algumas coisas me chamaram a atenção. Primeiro, os comentários. Pessoas do meu convívio social, seja do trabalho ou da família, que estavam ali acompanhando as minhas decisões e minha proto-militância. Conversavam, concordavam, perguntavam, argumentavam. Um monte de gente com quem eu já desfiz a amizade. Desfiz porque não tenho mais condições de manter contato com quem relativiza agressão, com quem defende discurso opressor, com quem não revê seus próprios privilégios. Ou também pessoas que se afastaram porque não aguentam mais a monotemática da violência de gênero. Gente que está de boa, levando sua vida, e não quer se incomodar com problemas da existência coletiva.
Até aí, nenhuma novidade.
Porém o que realmente me espantou foi a minha esperança na coisa toda. Uma empolgação, uma alegria, diria até um otimismo que nunca foram meus. Mas naquela hora estavam em mim. Eu sempre fui mal humorada, azeda, arisca. Sempre fui intensamente pessimista e uma das minhas grandes decepções na vida adolescente foi a descoberta de que as coisas não iriam mudar.
Só que em 2011 a revolução estava logo ali. E lendo meus posts me vejo ingenuamente feliz, defendendo a sororidade, a luta coletiva. Mal sabia eu o que estava por vir e, mesmo já tenho lido Foucault, não vislumbrei a disputa de poder que mina todo e qualquer movimento social. Não ali, não naquela hora.
Também não sabia que a tomada de consciência das minhas próprias violências sofridas seria tão a avassaladora.
Tive uma professora que dizia que devemos prever o passado.
Foi isso o que fiz hoje, olhando minha linha do tempo.
E eu, que acho pessoas otimistas bem irritantes, confesso que até senti saudades de mim.
PS: Duro também é perceber que participei de várias daquelas correntes malucas de conscientização sobre o câncer de mama, em que postávamos nome de bebida, cor do sutiã, vou morar 9 meses em Las Vegas… Sem comentários.