A primeira pessoa que me chamou de vadia foi minha mãe. Depois dela foram tantas outras, homens e mulheres, namorados, amigas, profes, colegas de trabalho, gente que eu nem conheço. Mas eu era né? Desbocada, saliente, desobediente. O que pode ser pior que uma menina que não obedece? Uma mulher que fala o que pensa? Que gosta de sexo, de bar, da rua, que não se limita? Fui crescendo assim, ouvindo: você não pode ser assim, agir desse jeito, pensar desse jeito. Você não pode fazer isso, estar nesse lugar. Aquela culpa da Eva, da Lilith, da Maria Madalena, da bruxa na fogueira, de todas as mulheres culpadas por serem mulheres, por serem vadias, por não terem limites, não obedecerem os limites. Foram 10 anos para entender como funciona o patriarcado, o machismo, o sexismo, a violência, o abuso, a intolerância, o preconceito, o limite. Sempre o limite. Marchando em diferentes espaços, na rua, na sala de aula, na academia, com tantas pessoas inacreditavelmente fantásticas que a vida colocou no meu caminho para caminhar ao meu lado. Queria poder nomear todas aqui, pois sei da importância que cada uma teve nessa (des)construção. Escrevi uma tese para registrar essa utopia fracassada, porque ganhamos e perdemos todes, essa potência que hoje segue represada e confinada no isolamento social serve pra lembrar que a necropolítica se enfrenta com corpos desejantes. Com riso e deboche, como só nós sabemos fazer.