Vem quem quer, fica quem dá conta

Por incrível que pareça, sou uma pessoa muito reservada. Mesmo falando pelos cotovelos, contando causos e mais causos de foras a corações partidos, escrevendo sobre minhas dores e dissabores, há algo que sempre escapa, algo que é só meu e não compartilho com ninguém além da analista. Algumas coisas nem com ela. Isso não quer dizer que eu seja falsa, ou que omita coisas importantes, até porque está tudo lá. Máira Nunes, professora, mãe de gente, mãe de pet, mãe de planta, muitas dívidas e pouco tempo. Poderia ser minha descrição no Tinder, um resumo da ópera bufa que é a minha vida. Qualidades: beber uma garrafa de whisky, dançar até de manhã, parir filhos sem anestesia. Nem tudo precisa ser dito, fui aprendendo aos poucos, gosto muito de falar, gosto de falar muito. Mas passei quinze anos muda, sem interlocução, e jurei pra mim mesma que não deixaria mais isso acontecer. “Onde não puderes amar não te demores”, diz a frase atribuída a Frida Kahlo e eu, que amo sozinha, amo por 2, me demoro demais em lugares e pessoas, demais mesmo. Daí que criei uma versão diferente, algo como “onde não puderem te amar, não te demores”. Exausta de ser demais, ou de menos, de nunca ser a pessoa certa, talvez se não tivesse essa bagagem toda, essa força toda, essa intensidade toda. Ou talvez se não houvesse tão pouco tempo, tão pouca paciência, tão pouca delicadeza, tão pouca disponibilidade. Difícil se demorar quando quem te acompanha é um trator, um vulcão, um abismo. Pois é isso mesmo, “what you see is what you get”, mesmo que seja só na versão demo, só na versão resumida, só na versão teste grátis por 30 dias. Foi preciso muito tempo para entender que não há nada de errado em ser trator, ou vulcão ou abismo, principalmente quando há respeito e honestidade. Que não é preciso se ajustar à expectativa do outro, afinal o que é do desejo do outro é problema do outro. Nem sempre é fácil, nem sempre é agradável, mas é um caminho muito importante de autoaceitação.

Vem quem quer, fica quem dá conta.

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