Nesse momento, fúria. Um enorme pesadelo que se arrasta há anos, genocídio, negacionismo, kit covid, antivacina, lá em 2018 já sabíamos que seria um horror, mas uma pandemia mundial não estava na lista de “piores coisas que podem acontecer” de ninguém.
Na minha lista não constavam tantas outras coisas, algumas são do universo coletivo e seguem chocando todo mundo, outras são do campo pessoal e só enfurecem a mim. Nessa precariedade absurda do apocalipse só resta agradecer por estarmos vivos, eu os meus, e apesar disso ser tudo o que importa, já deixou de ser suficiente há tempos. São 672 dias que viraram um só, nem Ulisses daria conta.
O ano começa com tudo, tudo, tudo dando errado, uma sucessão de erros e problemas massacrante, me sinto numa ressaca de mar, sem dar pé, rolando e ralando pela areia, quase me afogando. Mas há alguma surpresa, alguma promessa, uma graça “para te ajudar na recuperação”, mesmo que o encontro precise ser adiado ad eternum.
Então, é isso o que tempos pra hoje: estamos vivos, mesmo que o viver se reduza, hoje, a respirar e existir, mesmo que esse respirar já não seja a plenos pulmões, nunca mais será. A realidade e as possibilidades da vida a se viver sendo comprimidas como numa armadilha de filmes de ação, as paredes e teto se fechando cada vez mais.
A fúria contida entre quatro paredes explode ou implode?