Não quero flores

Mais um oito de março e ainda ganhamos salários inferiores exercendo a mesma função, mesmo com formação igual ou superior. Ainda somos tratadas como coisa como posse, como menos, como nada.

Ainda temos nossos corpos regulados pelo Estado, pela Igreja, julgados pela moral e os bons costumes, pela psiquiatria, pelos índices hormonais, pela passabilidade, pela cor da pele, pelo IMC, pelo que temos no meio das pernas, pela vizinhança, pelas redes sociais.

Ainda somos chamadas de puta, burra, vadia, bruxa, megera, vaca, cadela, gostosa, baranga, canhão, essa é pra casar, não merece ser estuprada, pobre e fácil.

Ainda somos acusadas de não sermos boas mães, de não sermos mães, de não segurarmos nossos maridos, de roubarmos os maridos das outras, de darmos o golpe da barriga, de não nos mobilizarmos do jeito certo, de não entendermos de política, de não lutarmos por coisas importantes, de enfraquecermos a esquerda.

Ainda somos ameaçadas, menosprezadas, ridicularizadas, assediadas, abusadas, estupradas, assassinadas.

Mais um oito de março e não temos nada a comemorar. Pandemia, guerra,  carestia, precariedade, violência, preconceito.  Nada disso é destino, seguimos sobrevivendo nas brechas, nas frestas, transformamos tudo em agência, em potência, em afeto e amizade. Tudo é força, até quando achamos que não.

Por isso não quero flores. Quero direitos, quero respeito. Quero que você lute ao meu lado e caminhe comigo. Ou saia do meu caminho.

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