A vida é um sopro, Helena, e de clichê em clichê me despeço de uma pessoa horrível. Morreu de infarto fulminante, me contaram, e ponto. Vazio. Já havia arrancado da minha vida há tanto tempo. Meu primeiro orgasmo e a única lembrança boa de uma pessoa péssima que, até o fim, não conseguiu melhorar como gente. Não sei quem chora a sua morte, se conseguiu encontrar algum amor ou amizade verdadeiros. Quem mente e manipula compulsiva e narcisicamente, muitas vezes consegue. Mas desconfio que não, porque quase trinta anos depois me procurou para dizer que tinha virado uma boa pessoa e que ainda guardava as minhas cartas. Primeiro fiquei com raiva, depois triste, depois feliz. Por mim. Por tudo o que vivi depois dele. Apesar dele. Morreu uma pessoa horrível. Rest in Hell.