Um deja-vú, Helena, o dia de hoje. Sonhei com flores enquanto o dentista escarafunchava minha boca, naquela absurda sessão de tortura à qual chamamos de tratamento. Repensei todas as péssimas decisões que tomei em minha vida, mais uma vez, como se houvesse um jeito de reparar o abandono e o vazio de quem se fez sozinha no mundo. Como se aquele dente trincado não representasse também os erros de agora, um coração pulsando acelerado, cheio de medo e desejo nesse meu corpo esfacelado. O apocalipse acabou por decreto, avisa o jornal, e eu permaneço incrédula achando que esse pesadelo nunca vai acabar. A utopia agora é um chalé chamado Noam Chomsky, ridícula que eu sou.