Nesse dia das mães eu quero falar sobre ser mãe: solteira, porque esse estigma eu carrego com orgulho, como carrego o de ser desquitada, de ser vadia, de ser livre. Mas também sobre ser mãe de mim mesma, porque antes de ser 100% responsável pelas minhas crias, tenho sido 100% responsável pela minha própria sobrevivência desde sempre. Não é uma questão de dinheiro, ou não apenas, mas o fato de que essa solidão materna que hoje faz com que eu tenha que lidar sozinha com todos os aspectos da existência dos filhos também passa por uma vida tendo que lidar absolutamente sozinha com todos os aspectos da minha própria vida. É um sobreviver duro, árido, esse de não poder contar com ninguém a não ser consigo. Não ter um colo, um abraço, uma palavra de conforto. Hoje o desafio de ser a mãe que os meus filhos precisam esbarra na construção de ser a mãe que eu precisava e não tive. Se é preciso uma aldeia pra criar uma criança, o que é preciso pra criar uma mãe?
Então, sendo minha própria mãe, vou buscando formas outras de maternar e de existir.
Deixo hoje um abraço a todo mundo que tem que ser sua própria mãe e que a gente possa, cada vez mais, destruir essa violência toda que a gente chama de família e gestar modos outros de criar afetos e vínculos.