Abro os olhos, desligo o despertador do celular, já tem email do trabalho pedindo para fazer mais coisas. Alguém me marcou num meme, dou risada, largo o celular. Demorei muito, corro para por a água pra ferver, acordo um filho, converso com o outro, escovo os dentes, preciso de uma make, olheiras nos pés. Insônia, sempre. Passo café, coloco na caneca, ajudo um filho a trocar de roupa, me despeço do outro, arrumo mochila, organizo a comida do filho, vou fazer a make, o café da caneca já esfriou, pega os brinquedos, veste o tênis, tomo um gole de café frio, escova os dentes, esqueceu o casaco. Tá acabando a gasolina, passo no posto depois. Tchau, filho, tenha um ótimo dia, nos vemos amanhã. Choro. Nunca vou me acostumar. Fila no estacionamento, tô em cima da hora. Assino o ponto, entro na sala, qual era a aula de hoje? Falo sobre a vida, sobre a sociedade, sobre a desigualdade. Mostro dados, discuto, os alunos argumentam, perguntam. Foi uma boa aula. Chego em casa, a comida na geladeira está estragando, preciso reorganizar as compras, não somos mais 4, desisto de almoçar. Deito, 10 min, acordo com a britadeira no vizinho, dor de cabeça. Troco de roupa, vou pra reunião, por que é mesmo que aceitei essa função? Saio da reunião, café com pão de queijo, tem que trabalhar. Planilha, sistema, email, problemas. Uma mensagem com um beijo no fim da tarde. Só. Nem respondo. Cansei de sofrer por quem não me quer. Mas dói, muito. Orientação, aula. Às vezes dá certo, hoje não. Passo uma atividade, vamos debater o texto e escrever a análise. Sento, as costas doem, o olho arde, mais uma aula. Chego em casa, vazia. Exausta. As caixas ainda no chão, preciso de um sofá novo. De uma vida nova. Como criar uma vida nova?
Ótimo texto
Enviado do meu iPhone