Meu Amor,
Ontem recebi uma carta de uma pessoa que nem conheço. Era tão linda e triste que resolvi te escrever. Quero compartilhar contigo toda essa loucura que me habita e te encharcar desse meu desejo.
Estou lendo Marguerite Duras, conhece? Tenho uma admiração misturada com empatia desde O Amante. Pois vivi também essa mãe que é um mar, tendo eu mesma me tornado um oceano. E o rosto devastado? É como me vejo todos os dias. Eu já fui bonita, sabe? Esses meus lábios enrugados que te seduzem já foram firmes, e esses olhos pequenos que te habitam já foram tão verdes. Esse corpo que hoje é só pele e osso. Mas eu já fui, sim, já fui tudo. Hoje sou outra coisa e moro nesse rosto devastado.
Mas eu te escrevo para contar que sonhei contigo. Que nos beijávamos loucamente no meio da rua, na frente dos passantes. E que ríamos e éramos felizes ali, em plena praça, nos amando sem nos importamos com viv’alma. Acordei com nosso gozo. Sinto teu amor todos os dias e me movo nele. Quero que saibas que estou aqui, te esperando.
Beijos,
M.