Amar em tempos de cólera*

Haja amor.

É preciso cultivar afetos. Dissidentes, desobedientes, potentes. Manter a cabeça erguida e a coluna ereta, o peito aberto para enfrentar o que vem pela frente. Há uma história forte que nos precedeu e que nos forjou, de um jeito ou de outro, para o que enfrentaremos a partir de agora.

Se há algo que aprendemos com as pessoas que lutaram antes de nós, é que precisamos manter nossos afetos livres e utópicos. Eles têm medo. Dos nossos corpos desejantes, da nossa audácia desavergonhada.

Têm medo da ousadia que luta, que dança, que transa, que ajuda, que abraça e protege. Do glitter, do glamour, da festa, da solidariedade, do riso. De quem sobrevive à revelia da própria sorte.

Quanto mais livres somos, mais incomodamos quem vive do recalque e da repressão do desejo. O ódio se sustenta nesse medo e vai produzindo uma moralidade tosca que procura, a partir do controle de corpos, corações e mentes, dominar e eliminar o outro. Esse outro subalternizado que sempre fomos.

A estrutura patriarcal, racista, homotransfóbica, colonial, nunca deixou de existir. Nós temos avançado tão pouco, mas mesmo assim ameaçamos a ordem social criada pra nos subjugar. Mas não nos entregamos. E somos uma multidão.

É tempo de nos protegermos, de nos unirmos e nos acolhermos. Fugir da prisão desse medo que nos controla e submete. E nos mantermos vivas. Quando tudo mais desaba ao nosso redor, são nossos afetos que nos mantém de pé.

Que o amor seja nossa maior arma e que estejamos próximas. Nossas redes já foram costuradas, só precisamos deixá-las agir. A gente se encontra no inbox, no bar, no café, na rua.

Continuamos juntas. Sempre.

 

*Licença poética. Obrigada, Gabo, pelo melhor título ever.

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