Foi num sábado de manhã, de ressaca e já chorando de TPM, que resolvi assistir ao filme. Havia lido os comentários de quem adorou e de quem odiou e estava curiosa para ver a elogiada atuação dos protagonistas. Também tinha lido que a história não era tudo isso, então sabia que não iria passar mal, como já aconteceu com tantos outros dramas que eu assisti. Depois do surto do meio do ano, quando abri a caixa de Pandora assistindo ao mesmo tempo After life e Boneca Russa, decidi ser mais cuidadosa. (Aliás, essas séries deveriam vir com trigger warning, como 13 reasons.)
Chorei, é claro, mas fiquei tão decepcionada com a construção do roteiro que cheguei a conversar com amigues do Clube das Desquitadas para tentar identificar o incômodo que estava sentindo. Começa pelas cartas que escrevem um para o outro. Em um processo de separação não sobra nada de bom, só desprezo e a descoberta de que a outra pessoa nem gostava de você. Talvez gostasse de quem você foi um dia, aquela figura idealizada, mas com certeza não da pessoa que você se tornou durante a relação.
A cena que mais se aproxima do que vivemos em uma separação é a da discussão. Só que não é um momento de catarse após o qual tudo se acerta. São milhares de momentos horríveis e violentos, intermináveis, intercalados com choro e desespero.

Então, percebi que o incômodo não se deu pelo que foi narrado sobre a separação, mas o pelo que não foi. Tudo o que não está lá: a vergonha, a humilhação, a decepção, o ódio, o nojo, a traição, a agressão, as mentiras, a manipulação, a dor dilacerante, a alienação parental, a ideação suicida.
Mesmo quem não tem filhos passou por variações desse script de término. Faço parte de uma geração de mulheres que carregou nas costas o casamento, o marido, a responsabilidade afetiva, a exclusividade monogâmica. Essa carga nos colocou num lugar de chata, bruxa, megera, louca, alguém pouco amável, sem atributos positivos. Na maioria dos casos, nos colocou no lugar de mãe mesmo. O que é medonho, óbvio.
Sair do lugar da mulher que carregou, afetiva e financeiramente, uma relação até o fim demanda um percurso de superação e de reescrita de si que é lento e sofrido. Quem eu era e quem eu sou agora? Quem eu quero ser? Quem eu não quero mais ser? O que sobrou de mim?
É preciso um bom acompanhamento terapêutico para enfrentar esse processo sem enlouquecer. E a consciência de que serão muitos e muitos anos para que aquele final feliz ali, com pessoas adultas, maduras e responsáveis que priorizam o respeito, possa realmente ser alcançado. Mas, voltamos ao básico: it takes two to tango.
Você só pode fazer por você.
Então faça.