“Não quero flores. Não quero congratulações, nem tapinhas nas costas.
Quero um abraço da minha melhor amiga, de todas as minhas amigas e das mulheres que nem conheço. Quero o cheiro de todas as mulheres que já passaram por mim, de todas as mulheres. Quero mãos dadas com quem luta ao meu lado e a certeza de saber que sobreviveremos.”
Encontrei esse texto não publicado, nas lembranças do FB. junto com tantos outros que já escrevi sobre esse dia. Há textos otimistas, raivosos, utópicos, indignados, há tanta luta ali. Desde 2011 passei pelo “não quero flores, quero direitos” até chegar, hoje, ao “nos queremos vivas”.
Porque morremos como moscas, em feminicídios e abortos clandestinos. Morremos com a medida protetiva nas mãos, na violência doméstica, na precarização, na sobrecarga. Morremos todos os dias, de morte matada e de morte morrida.
E quando não morremos, apenas sobrevivemos. Não há dignidade em uma vida de quem recebe menores salários, não consegue andar sozinha na rua em segurança, não consegue estar dentro da própria casa em segurança. Não há dignidade para nenhuma mulher sob uma sociedade e um governo que nos quer subjugadas sob o machismo, o sexismo, a misoginia, o racismo, a transfobia, a lesbobifobia, a putafobia, o capacitismo, a pobreza e a precariedade.
Sob esse governo, que nos quer mortas, nós sobrevivemos de pirraça, um dia depois do outro. Que possamos continuar vivas, de mão dadas, sabendo que ninguém irá nos salvar a não ser nós mesmas.
Nós por nós, sempre.
