
Nós perdemos quando a mídia e a sociedade acharam que era uma escolha difícil optar entre o discurso de morte e o discurso acadêmico, as coisas não estão indo lá muito bem, mas pelo menos tiramos o PT, pouco importa se a vítima dessa escolha seja eu ou você.
Nós perdemos quando deixamos sentar na cadeira da presidência da República a milícia, o escritório do crime e o gabinete do ódio, pouco importa que seja um roteiro de HQ de terror, de horror e de genocídio, afinal bandido bom é bandido morto, morreu foi pouco.
Nós perdemos quando achamos que discurso identitário é cultura do lacre e enfraquece a disputa política, há tantas coisas mais importantes para serem discutidas, mesmo que quem morra seja o preto, mesmo que se mate mulheres e crianças em uma creche, porque o ódio misógino faz parte também da ferida colonial que sangra no nosso jardim.
Nós perdemos quando achamos que pode ser gay mas não seja bicha louca, uma pena o Paulo Gustavo, mas também essa ditadura do politicamente correto já cansou, saudade de quando homem era Homem, com H maiúsculo, mesmo que na República de Curitiba, a capital mais fascista do país, haja um serial killer atacando e matando viados.
Nós perdemos quando já não contamos mais os números, quando já não lembramos mais os nomes, não sabemos quem morre e muito menos quem vive, porque já não vivemos há muito.
Nós perdemos a luta, a batalha, a guerra. A vida. O humano. A esperança.
Nós perdemos como um corpo sem vida numa cadeira de plástico.
Nós perdemos.