Resposta a quem acha que a Marcha das Vadias devia ter outro nome

Bom, estava eu confabulando sobre o meu próximo post “porque eu vou na Marcha das Vadias” e esperando arrumar um tempinho para escrever quando recebo a seguinte mensagem no blog da Marcha:

“sou a favor do movimento e estou mobilizando minhas amigas e amigos a participarem do movimento. Porem estou notando grande hesitaçao por parte deles e sinceramente, inclusive da minha parte, devido ao nome do movimento.  Estamos no Brasil, e como todos sabem, o nível intelectual das pessaos é baixissimo.  Acho que foi tb por isso que no RJ nao tivemos muito apoio.  Acho que mais importante do que fazer parte de um movimento mundial,  usando o mesmo nome que esta sendo usado em países com nível educacional mais alto que o nosso, é trazer um grande numero de pessoas as ruas.  Porem muitas mulheres nao querem ser vinculadas ao nome Vadias.  Por isso, ai invés de adotarmos o nome vadias (afinal nao sao so elas vitimas de estupros), nao seria melhor  adotar NAO A VIOLENCIA CONTRA A MULHER ?? 
com certeza mais pessoas iriam aderir ao movimento.
agora vai de vocês decidirem se é mais importante fazer parte de um movimento mundial sem sucesso no Brasil ou conseguir a atenção da mídia pelo numero de pessoas aderidas ao movimento
o Brasil é um país machismo, nos chamando de vadia, nao ajudara em nada ( estou ciente de pq este nome esta sendo usado, mas com certeza nao é adequado em nosso país).”

Confesso que tive que me segurar para não responder imediatamente desancando tal criatura. Mas, pessoa equilibrada que sou, aguardei um tempo, maturei…

Hoje cheguei em casa, tomei meus “bons drink” coloquei uma Maria Bethânia (Lama) e escrevi:


“Falo em nome de todas as organizadoras, pois debatemos muito a respeito do nome da marcha. Entendo o seu ponto de vista e concordo que ele seja o ponto de vista da absoluta maioria da população curitibana (homens e mulheres, jovens e pessoas mais velhas).
Entendo também a sua preocupação com relação à adesão popular das massas. 
No entanto, achamos que levar às ruas o termo vadia é imprescindível para a discussão sobre a violência contra a mulher. Pois essa violência está diretamente ligada às relações de poder estabelecidas no universo masculino. E é esse exercício de poder que faz com que os homens nos chamem de vadias para nos diminuir, para regular nosso comportamento sexual e para desmerecer nossa capacidade de articulação.
Acho também que a discussão sobre a violência deve obrigatoriamente abordar a prostituição e, se falamos em nome das vadias “oficiais” não podemos mascarar a situação.
Entendo que para mulheres brancas, heterossexuais, de classe média seja muito difícil ressignificar o termo vadia e discutir a questão de gênero que envolve os preconceitos contra a mulher (principalmente se for transsexual ou lésbica).
Agradeço a educação com a qual você expôs o seu ponto de vista, pois temos recebido muitos ataques extremamente cruéis e agressivos, que impedem o debate.
Aproveito também para tranquilizá-la quanto ao alcance da marcha, pois mesmo com um nome tão polêmico, já conseguimos agregar as bandeiras de grupos que estão há anos na luta contra a violência. Todas as ongs que trabalham com mulheres, GLBTTs, prostitutas, crianças em situação de risco de violência, estão nos apoiando e irão participar da Marcha.
E o melhor de tudo isso, fomos amparadas e acolhidas pela delegacia da mulher e a secretaria municipal de saúde, órgão do poder público que trata diretamente de todas as questões de violência física e sexual.

Por isso, gostaria de convidá-la a repensar sua crítica ao nome e a juntar-se à nós. Nós incorporamos o nome vadia à luta e hoje nos orgulhamos de sermos chamadas assim, porque para quem está acompanhando todo o processo desde o começo, vadia virou sinônimo de mulher que luta, que não se cala.”

Sei que não falei nada além do óbvio e ululante, mas acho que essa é a grande diferença de quem tá acompanhando a luta e quem pegou o bonde andando: nós estamos munidas até os dentes de argumentos, dados, estatísticas, discussões, horas e horas de análise, desconstruções, apropriações, releituras e fogo, muito fogo!

Quando surge um questionamento tão primário quanto este, não dá nem vontade de responder.

Mas é isso, a luta está apenas começando. Seremos apedrejadas, crucificadas… Soubemos inclusive que seremos literalmente ovadas, e provavelmente processadas, pois as pessoas não admitem que alguém diga: SIM, EU SOU VADIA!


Eu sou vadia, e você?

2 pensamentos sobre “Resposta a quem acha que a Marcha das Vadias devia ter outro nome

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