Comecei a preparar um post sobre a Marcha, mas desisti porque percebi que não conseguirei narrar de maneira condizente tudo o que aconteceu lá.
Você pode ler posts incríveis e super detalhados aqui e aqui. O vídeo você confere aqui.
Vou escrever apenas o que a Marcha representou para mim.
Sou uma inconformada. Quase sempre o fui (confesso que houve meus momentos de “largar os bets”, como dizemos aqui em casa) e de tempos em tempos minha revolta vem com toda a força.
Nem preciso dizer que estou em um destes momentos, tentando dar conta do mundo-cão que se configura à minha volta.
Por ter que confrontar todos os dias uma educação pseudoliberalcastradoraemanipuladora acabei me acostumando a fazer as coisas do meu jeito sem ligar muito para as consequências.
Adolescência conturbada, momento de testar os limites. Todos: vida, morte, sexo, loucura, política, ação e reação, amor, solidariedade, ódio, muito ódio.
Ódio de um mundo implacável que não permite a existência do outro, que se configura eternamente na luta do mais forte contra o mais fraco, corrompido por um poder que beneficia meia dúzia de viventes e oprime todo aquele que não faz parte do Mainstream.
Dito isto, volto à Marcha. Eu sabia que estava empreendendo um exercício de engajamento, de comprometimento. Um compromisso social.
Quando você toma a decisão de agir, você deixa de agir para si e passa a agir para o mundo.
Então, eu tomei coragem e fui: fui gritar ao mundo que SOU VADIA, que não vou mais me calar frente ao mundo que condiciona a mulher, que agride o outro, que normatiza comportamentos dentro da “perversa lógica do capitalismo”.
De megafone em punho, gritei bem alto: “sexo anal pra derrubar o capital”.
Porque precisamos nos libertar, com urgência.
Eu, diariamente, estou buscando me libertar de meus próprios preconceitos, dos meus comportamentos arraigados que não condizem mais com a minha filosofia de vida…
Seja a mudança que você quer no mundo. Eu quero que as mulheres deixem de ser classificadas de acordo com a sua conduta sexual. Eu quero que as mulheres deixem de ser violentadas e agredidas. Quero que as meninas sejam criadas em segurança, com uma sexualidade sadia…
Ao dedicar meu tempo e energia para a realização da marcha, me pus inteira ali. Revi todos os meus fantasmas, meus medos, meus traumas. Enquanto estava marchando, pensei em todos os homens que interferiram na minha relação com a minha própria sexualidade. Pensei na minha família e em todos as críticas que receberia por estar participando de uma manifestação dessa natureza.
A cada grito que dava, libertava uma parte de mim que estava aprisionada. Gritei, gritei muito. Cantei, dancei e chorei. Compartilhei. Vivi uma experiência coletiva incrível, única, inédita.
Abracei o centro da cidade mais careta do universo…
E me libertei.
Agora, só ficou o vazio.
Senti algo bem parecido na marcha das vadias em São Paulo. Fico bem animada vendo as fotos e os videos que posta da marcha em Curitiba, gostaria de estar em cada estado.