Mamando, parindo, vivendo…

Passado o turbilhão da Marcha, volto a me apropriar de mim e a repensar minhas coisas de maneira mais objetiva. Há uma semana do Mamaço Mundial, em comemoração à Semana Mundial do Aleitamento Materno, me lembrei de um post que comecei a escrever, no blog velho, e que ficou perdido…


Falava sobre a sexualidade da mãe e todos os seus mitos (ou da total ignorância de homens e mulheres…)


Bem, ao revindicar o direito de amamentar em público, me pus a pensar porque será que o ato de amamentar-alimentar um bebê pode causar constrangimento em alguém?


Ao fazer essa pergunta, não estava realmente preocupada com a resposta, afinal tem louco pra tudo, mas sim com o contexto do incômodo.


Primeiro, pensei sobre a exposição do seio, que seria a causa mais óbvia do tal constrangimento. Deixando de lado comentários imbecis como os do pessoal do CQC ou freudianos como os do João Pereira Coutinho, foquei imediatamente na relação corpo-objeto à qual estamos sujeitas atualmente. Nessa linha de raciocínio, um seio exposto obrigatoriamente exige um olhar sexual. A mulher não tem autonomia para expor o seu corpo, construído através do olhar masculino, se não houver a função de seduzir.


É claro que esse pensamento é reforçado socialmente, entre homens e mulheres, pelos padrões de comportamento condicionados e condicionantes à “condição” feminina. Pois ao nos constituirmos objetos, não temos direito de optar por outra relação com o corpo.


Vou desenvolver de outra forma: a mulher possui diferentes formas de prazer físico, que não apenas o sexual e, o que é mais importante, que não apenas o que advém do “olhar” masculino (aqui incluído todas as etapas do jogo de sedução, até o ato sexual em si).


Eu, que tive dois filhos nascidos de parto natural, entendo muito das diferentes sensações de prazer que o meu corpo me permite vivenciar e que não dependem e, o que é mais importante, não têm relação nenhuma com o prazer sexual. Quando se comenta a existência de um parto orgástico os puritanos de plantão já se escandalizam, pois associam a experiência à um orgasmo sexual “comum”…


A questão do tipo de prazer que se pode sentir ao parir um filho de forma plena e natural está diretamente relacionada à força dessa experiência, que no nosso caso (de viventes em uma cultura tecno-industrial), é uma experiência ainda mais forte, pois não faz parte do nosso “background”… Não temos registro histórico coletivo, memória social ou vivência do que seja esse contato supremo com a natureza em toda a sua plenitude. Um parto sem intervenções, realizado com segurança e amor, permite a liberação de uma quantidade imensa de ocitocina. Isso sim é uma experiência orgástica… 


Na mesma linha, a amamentação também gera prazer, pois a liberação da prolactina e da ocitocina inundam o organismo da mãe e do bebê… Mais uma vez, não é um prazer “sexual” no sentido da cópula… É um prazer fisiológico de doação, de amor incondicional.


Difícil é, para homens e mulheres condicionados ao comportamento (sexual e social, por que não?)  regrado, entender e aceitar essa “autonomia” do corpo feminino.


Ah, então o corpo feminino produz prazer sem a atuação masculina, o insuperável falo? Sim, as lésbicas bem o sabem…


Mas o corpo feminino produz prazer intenso, sem conotação sexual? Sim, e basta uma pequena mudança de “paradigma” para se abrir a essa experiência maravilhosa.


A natureza é pródiga e nem deveríamos precisar reafirmar isso constantemente. Mas como deixou de ser uma verdade, deixo registrado aqui. A natureza é pródiga, o corpo humano é perfeito. Basta confiar.


Termino o post com uma pequena provocação: a amamentação é, também, um ato subversivo – anticapitalista. Para alimentar o seu filho e mantê-lo saudável, você não precisa de dinheiro, produtos industrializados, tecnologia, fórmulas mirabolantes. 


Você só precisa de amor,  boa vontade e paciência.


SEMANA MUNDIAL DO ALEITAMENTO MATERNO.

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