Há muito tempo tenho me incomodado com a palavra “normal”, principalmente quando ela é usada como adjetivo para pessoas ou atitudes.
Eu, que nunca fui normal, tenho visto a cada dia essa palavra ser usada para diminuir e taxar o outro, pelo simples fato desse outro ser diferente.
Foi por esses dias que esse post ganhou vida, quando me vi conversando com uma aluna talentosíssima, a quem admiro muito, e ela afirmou: “foi quando entrei no Facebook que percebi que eu não era uma ET.”
Opa! Péraí!!!
Quer dizer que tem mais gente que se sente um ET?
Porque, óbvio, eu sempre achei que era só eu e mais uma meia dúzia…
Foi lá pelos meus quinze anos, depois de todas as crises de adolescência, de não pertencer, de não “servir”, não me adaptar, que adquiri consciência de que eu simplesmente não me adequava.
E saí pelo mundo, inadequadamente procurando um lugar no qual eu me encaixasse, no qual eu “servisse”. Comecei a me sentir um ET, tinha até um namoradinho que esperava comigo a chegada da Nave Mãe.
O namoradinho e se foi e a Nave Mãe nunca chegou…
E tive que dar conta da minha inadequação e estranheza. Procurava amigos e amigas que fossem, como eu, de outro planeta.
E tive que dar conta da minha inadequação e estranheza. Procurava amigos e amigas que fossem, como eu, de outro planeta.
Mas é difícil, viu? Porque a normalidade é tão forte, tão avassaladora, que mesmo quem não é faz uma força tremenda para ser. Eu mesma tentei muito.
Nem preciso dizer que foi um fracasso total. Primeiro porque perdi anos preciosos me dilacerando para ser algo que eu simplesmente não era e principalmente porque, quando se é um ET, não há máscara que dê jeito…
Enfim, muitos anos se passaram, muitas horas no divã, muitas experiências desastrosas de pseudonormalidade e algumas incríveis de “livre existência do ser”. Pois foi quando eu me libertei que pude plenamente sentir a maravilha que é NÃO SER NORMAL.
Às vezes encontro alguns autoproclamados ET’s. Meu irmão Alisson é um deles. Alma sensível e áspera, mais sensível e mais áspera que a minha. Muito mais profunda também… criatura iluminada que está errando por aqui e que dei uma sorte incrível de encontrar, veja só, no orkut.
Dessas esbarradas com esses ET’s incríveis eu aprendi que a normalidade é uma “doença” e que é um tipo de preconceito cruel. Vejo meus amigos e amigas LGBTT sofrendo com a heteronormatividade e cada vez que eu leio algum relato sobre como se sentem penso: Ei! Mas eu sou hétero e também me sinto assim. Também fui excluída e perseguida, por amig@s e familiares. De forma agressiva ou sutil…
Anos e anos sendo a vadia na rua e a ovelha negra dentro de casa fazem com que qualquer uma se sinta uma pária.
Somos todos alienígenas em nosso próprio mundo. Alguns, como eu, superam a normalidade e se orgulham disso, encontram uma forma digna de co-habitar em um mundo tão ridiculamente quadradinho.
Outros se vêem como anormais e não se encontram, nunca. Também tive alguns amigos assim e, infelizmente, nenhum deles sobreviveu para contar a sua história.
Eu sobrevivi e o que vejo hoje é um movimento lindo de libertação. Novas teorias reclamam para grupos considerados “minorias” um espaço que sempre lhes foi de direito.
E, ao se apropriarem de si, essas ditas “minorias” ganham força e provam que dá pra ser diferente. Incomodam, e muito, os arautos da normalidade.
Que delícia! O mundo fica um pouco mais interessante cada vez que um “normal” perde o sono por conta dos ET’s que estão começando a infestar o mundo.
Que delícia! O mundo fica um pouco mais interessante cada vez que um “normal” perde o sono por conta dos ET’s que estão começando a infestar o mundo.
A mim, ainda fica a questão: normal – quem o é?