Torre

Há 3 anos eu começava meu processo de separação, já estava destruída e nem imaginava que o pior ainda estava por vir. Foi uma longa jornada até aqui, sobrevivida um dia de cada vez. A primeira coisa que fiz foi sair da casa, ninguém entendeu. Insuportável pensar que esse sonho alimentado durante tantos anos pudesse ter acabado em descaso e desamor. Não conseguia respirar, muito menos continuar morando  nesse lugar. Da noite para o dia nada mais fazia sentido: a torre negra, conhecida no condomínio como “a casa preta da mulher tatuada”; a vista, as árvores, as plantas, o espaço, tanto espaço e eu sufocada. Fui embora. Fui me reconstruir em outro lugar.

E então veio o isolamento e a necessidade de espaço, a volta e a obrigatoriedade de criar um novo sentido para esse não-lugar. Nada mais é meu aqui  a não ser meus filhos e meus livros. Mas foi nesse estranhamento, nesse vazio, que pude existir em plenitude. Segura, na minha torre negra, vivi felicidades inimagináveis. Voltei a sonhar, literalmente, pois consegui dormir depois de séculos de insônia. Sonhos  potentes, tanta vida se tornou viável. Um corpo vibrante e nutrido, bem alimentado, desejante. Ao parar de fugir me apaixonei, veja só, por mim. Continuo encabulada com esse amor, mas amo. Meus caminhos sempre me levaram para outros lugares, mas também me trouxeram de volta quando foi preciso. Então, aqui fico, aqui finco raízes, para que logo mais possa partir novamente.

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