Clube das Desquitadas #3: Retrospectiva

Passaram os dias, passaram os meses, a paciência, a fé na humanidade, os votos de ano novo, feliz páscoa, feliz aniversário, feliz natal. Ninguém esperava ter que ficar em isolamento por tanto tempo, e o que é pior, sem nenhuma perspectiva de mudança no cenário pandêmico. A segunda onda vem chegando sem nem mesmo termos saído da primeira, não há vacina nem pacto coletivo para a contenção da doença.

Nós aqui no Clube das Desquitadas já passamos por todas as fases possíveis e imagináveis: raiva, negação, desgraçamento, pé na jaca, remorso, posição fetal, lei de Murphy, tristeza, solidão. Para dar conta, procuramos formas de existir e resistir. Há quem dance, quem beba, quem fume, quem faça yoga, quem chore, quem trabalhe, quem faça crochê e quem faça um pouco de cada coisa. Chutando o balde, um pouco a cada dia.

Depois que a nossa sócia fundadora se rendeu ao Tinder, nada mais me espanta. Até quem não queria nada com coisa alguma acabou se entregando aos apelos do app. Ninguém aguenta mais solidão, tédio, vazio, carência e falta de sexo. Ou de carinho, afeto, companhia, cada qual com sua falta, não é?

Falando em falta, pouca gente está conseguindo manter a terapia, principalmente por falta de grana. Ou porque a terapeuta não acredita em tratamento online. Força para quem está despirocando por aí, sem assistência ou alguém pra dizer: hummm nos vemos na próxima semana.

Já falamos sobre o Tinder aqui e continuaremos falando por motivos de: onde mais encontrar companhia? Lives no Instagram? Festas nos Zoom? Grupos de Whatsapp? Sabemos que, bem usado, qualquer app pode ser um app de relacionamento. Mas também sabemos que temos zero talento pra flerte, o que não ajuda nada o cenário de conseguir contatinhes em plena pandemia mundial. A possibilidade de manter a conversa e o flerte virar um webnamoro é quase como ganhar na megasena, ainda mais quando não há perspectiva de encontro real oficial.

Mas como somos brasileiras e não desistimos nunca, passamos esses meses todos na pista e o rolê aconteceu assim:

Março: vai dar tudo certo, estou pronta pro apocalipse.

Abril: Tinder sem fronteira, ousando nos 5 continentes.

Maio: surge a figura da @ da semana: a @ vem, a @ vai.

Junho: dia dos namorados, todes miseráveis all by myself.

Julho: sem perspectiva de acabar a pandemia, perdemos um pouco o controle.

Agosto: esqueça aparência, titulação e até a trilha sonora. As melhores @ são sempre as mais engraçadas.

Setembro: a @ da semana dá lugar ao webnamoro.

Outubro: geral flexibilizando e você lá, firme e forte no isolamento. SÓ VOCÊ.

Novembro: Tinder já ficou até obsoleto, flertamos no zoom.

Dezembro: você decide marcar o date exatamente quando começa a 2ª onda. Volte duas casas.

Menção honrosa: junto com o passar dos dias e meses temos a variação dos ciclos menstruais. É aí que o patriarcado vence. Mas vence de lavada. E quando você e sua BFF têm os ciclos sincronizados, vence duplamente.

– Amiga, tô ovulando, marcando o date com o boy, me ajuda.

– Mana, tô ovulando também, só vai, foda-se.

Então, chegamos ao fim de ano vivas, a agenda cheia de contates, a pasta de nudes com um acervo invejável. Relacionamentos virtuais podem ser bem interessantes e permitir novas formas de trocar afeto e desejo. Sempre com responsabilidade afetiva, lógico.

E não se esqueça, se a @ não te trata como uma galáxia, não te merece.

E que venha a vacina para que a gente possa concretizar todos esses dates.

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