Batom

Compro um livro de “contos de batom borrado” e lembro-me imediatamente que a última vez que borrei meu batom foi naquele beijo de despedida, quando ainda achávamos que o fim do mundo seria apenas um hiato e não um abismo. Um beijo meio roubado, porque eu queria e quero sempre, você bem sabe, tão fácil foi o primeiro quanto foi o último. Fácil como se a nossa volta não houvesse mais ninguém. Lembrei-me das cartas de amor, do sofá, da cachaça, da conversa no café da manhã, do seu corpo na minha cama. Do eterno presente, em que nada e tudo era possível, o tempo sempre em suspensão, apenas nossas línguas dançando em corpos entrelaçados. Seu sorriso de batom borrado é a memória mais bonita desse mundo que não existe mais.

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