Passado

Aos 15 eu estava lendo Platão e Nietzsche, não entendi nada, mas Ferlingheti sim falou comigo, recitei de cor junto com Blake. Não me tornei mais inteligente por isso, porque também li Sidney Sheldon e Danielle Steel. Que eu seja toda prosa, de leitura longa e lenta, é apenas um detalhe sem maior importância. Porque continuo ininteligível como Deleuze e mesmo que você não conheça esses nomes não há problema algum, pois eles nada dizem de mim, apenas de algo que faz parte da minha história. Assisti aos filmes do Kieslowski, tão importantes quanto Hughes, esse sim o formador de caráter de toda a minha geração. A pessoa que assistiu Alguém muito especial e concordou comigo hoje é apenas a lembrança de um flerte muito mal sucedido e deixo aqui registrado que, nesse caso específico, a conta da paquera fracassada pode ser dividida meio a meio. Sinto falta de quem eu era e olha que nem gostava muito de mim. Mas havia talvez uma promessa, um devir, algo que estava quase. Essa saudade fala de tantos momentos que eu vivi intensamente e de outros que nem me lembro, mas estão marcados em meu passado. Já não suporto mais essa palavra, só não é pior do que futuro porque esse nem sequer existe. Esvazio meu baú de memórias ao longo do caminho, como um carreto de mudanças que se abre e vai espalhando restos de vida por todos cantos. Já passou da hora de viajar mais leve, vou vivendo de letras de músicas e sensações de amor. Mas seu sorriso ainda carrego comigo.

Um pensamento sobre “Passado

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