Helena, todos os anos tenho escrito textos de sobrevivência, já falei do tempo fatiado, da Simone, do não superar nada, do morrer feito Belchior, esse ano chego ao período festivo meio perdida, sem uma tábua de salvação. Ansiosa, medrosa, pensando no dia de amanhã, no ano que chega, na vida que não se realiza nunca. Comprei uma passagem como se houvesse alguma esperança, ingênua, você deve pensar, e eu bem sei que não há salvação nem lá e muito menos aqui. Mas cada passo me permite achar que não estou mais presa à minha sina, esse destino desgraçado que alguém com péssimo senso de humor traçou pra mim. Por isso sigo fazendo planos e escrevendo textos e buscando (apenas um sentido), já quis tanto, hoje já quero só a ilusão da presença. O vazio segue imenso, me afogando num oceano de uma história não realizada. Continuo só querendo uma chance, Helena.