Eu já havia comentado que não tenho nenhum talento para sites de relacionamento. Não sei flertar nem ao vivo quanto mais a distância. Primeiro que entendo que deu match já é “oi, vamo” e daí é só trocar algumas informações básicas e partir pro date. Aparentemente não é assim que funciona, tem uma @ com quem tô flertando tem semanas já e nada acotece feijoada. Sim, eu sei.

Veja, não há nenhuma crítica ou moralismo aqui. Acho um modo válido de conhecer pessoas e arrumar uns cruzos, quiçá um cobertor de orelha ou até mesmo um namoro, para quem está procurando o par ideal* (essa sim considerada uma iniciativa séria e bem sucedida) e não um lugar de pegação – credo, que delícia – para gente que não consegue arrumar ninguém como, aparentemente, o Tinder é visto.

Desde a separação já instalei e desinstalei um zilhão de vezes, porque a preguiça e o fracasso constantes me impedem de permanecer no app por muito tempo. Além do que sou uma mulher com filhos, que mora em Curitiba e é professora universitária. Leia cada característica como motivo para desfazer o match, sem falar no óbvio que é a idade – já um importante filtro.

Mas eis que a empresa resolveu ser solidária com os corações (e corpos, vamos combinar) confinados e abriu a geolocalização para o mundo todo. Opa, esse é o meu momento, pensei, e até coloquei mais uma foto no perfil (agora tenho DUAS) para ver se adiantava um pouco as coisas pro meu lado.

Dei uma viajada por todos os continentes, começando pelo sul global, e a primeira conclusão óbvia (já falamos disso lá no Clube das Desquitadas) é que não existe homem pra mim no Brasil (nem mulher, mas essa é outra história). Claro que há a minha parcela de culpa no processo todo, pois zero paciência, mas a limitação das pessoas na arte da conversação é algo digno de nota.

Mesmo numa situação em que não há perspectiva de um encontro, pois pandemia mundial, não há como rolar uma amizade (colorida, com benefícios que seja). O que nos conduz a outro ponto bem importante:

Omi cishet é que nem mãe, só muda o endereço. Um festival de oi, linda, linda linda em diferentes idiomas e formatos. Depois de um tempo entendi a dinâmica dos boys porteiros, dos sugar babys, dos caras que só queriam nudes**, dos que se arreganhavam inteiros quando liam BRAZIL.

Fiquei algumas semanas nessa, foi interessante, muitas pessoas muito lindas mesmo, dá até gosto de ficar olhando, vários matches, me senti bem vitoriosa. Dei uma circulada aqui no Brasil também, Belo Horizonte só tem cristão, São Paulo é muito sucesso, fiquei por ali mesmo. Arrumei inclusive alguns contatinhos aqui na república, o que me leva ao último ponto: os caras querem alguém que fure quarentena. Não importa se a conversa flui, se vocês se divertem, se têm várias coisas em comum. A conversa vai morrer assim que o cara perceber que você não vai se pôr em risco por uma transa meia boca com um desconhecido.

Enfim, quando você não tem expetativa nenhuma situações interessantes podem acontecer. Conheci pessoas muito legais e tive a oportunidade de mandar meu vergonhoso inglês macarrônico sem constrangimento algum. Tenho amigues que arrasam em qualquer aplicativo, obviamente não é o meu caso. Tenho crushes de estimação, em alguns casos já rolou e não rola mais, em outros não vai rolar nunca, mas tamos aí.

Flerte pode ser um esporte muito legal, mesmo sendo péssima nele.
*Par Ideal é uma agência de encontros bem tradicional daqui de Curitiba. Pra quer quer um relacionamento sério.
** Não trabalhamos com nudes, apesar de não ter nada contra, inclusive gosto muito, pode mandar. A história todo mundo já conhece: tive um namorado, mandei nudes, tomei um fora. Fim.
Bônus track: você se chama Ana e recebe áudios:
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Sobre os áudios: Preferia ⭐ morta!
Tinder, obrigada por ter me banido, nunca soube porque, but not does matter!
Não tá perdendo nada, amiga. Toda vez que pensar em voltar vou me lembrar dessa experiência. A vontade passa na hora hahaha
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